Realizou-se no dia 9 de Abril de 2025, na Biblioteca Fernando Ganhão da UDM, a 2.ª edição do Atelier Filosófico, coordenado pelo prof. Catedrático Severino Ngoenha, sob o tema “Costurar a Sociedade”. O encontro focou-se nos quatro pilares fundamentais para a reconciliação social: verdade, justiça, reparação e prevenção.

A sessão contou com a intervenção da Conselheira de Segurança Humana na Embaixada da Suíça em Moçambique, Monika Nyffeler, que destacou a importância de processos de transição abrangentes, referindo os dilemas entre processo holístico vs. pragmatismo, e entre paz e justiça. Com base na experiência suíça e internacional, Monika Nyffeler defendeu formas de paz que não sacrifiquem a dignidade das vítimas e uma justiça que não comprometa a paz. Nyffeler chamou ainda a atenção para os processos de paz e reconstrução social, destacando que mesmo sociedades tidas como pacíficas, como a Suíça, passaram por guerras e divisões profundas, como os conflitos entre católicos e protestantes.

O prof. Catedrático Severino Ngoenha destacou o atelier como um espaço alternativo de diálogo, onde a justiça restaurativa substitui a lógica punitiva. Alertou para os “não ditos” da história moçambicana – como a guerra civil ou o massacre de Homoíne – e sublinhou a necessidade de uma nova mentalidade preventiva, centrada na mediação e no diálogo.

O Magnífico Reitor da UDM reiterou a pertinência dos quatro pilares no contexto nacional, reforçando a urgência da verdade eleitoral, da justiça restaurativa, da reparação (com referência ao modelo sul-africano) e da prevenção como atitude cívica essencial.

O debate foi enriquecido por intervenções do público. Emério, estudante da Universidade Eduardo Mondlane, defendeu que Moçambique não pode escolher trabalhar apenas com um dos pilares, sob pena de criar fragilidades em outras áreas. Sublinhou que um enfoque holístico é indispensável e que a educação popular sobre os quatro pilares deve ser uma prioridade para qualquer processo de transição. Defendeu a abordagem holística dos pilares. Dalisso Alberto, da Universidade Politécnica, criticou a distância entre o povo e as instituições, defendendo uma profunda reestruturação institucional. Já o Reitor do Seminário Unido de Ricatla, Samuel Ngale, alertou para a resistência do sistema em ouvir vozes competentes e a influência da exploração externa sobre Moçambique. Ngale reforçou que o problema não é falta de pessoas competentes, mas sim um sistema que não quer escutar essas pessoas. Falou sobre uma espécie de oligarquia institucional, onde as decisões são tomadas por interesses restritos, alheios ao bem comum. Destacou ainda o peso das condições geopolíticas internacionais, afirmando que Moçambique continua a ser alvo de uma lógica de exploração económica, que se mantém mesmo após o fim do colonialismo, agora reforçada pelo gás, petróleo e recursos naturais.

O encontro terminou com uma chamada à reflexão sobre como “costurar”, de forma verdadeira e duradoura, a sociedade moçambicana. O atelier reafirma-se como espaço essencial de pensamento crítico, diálogo e cidadania activa.

A próxima edição acontece na segunda quarta-feira de Maio, na Fundação Fernando Leite Couto (Av. Kim Il Sung, nº 961).

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